O título da exposição, “./logSinapses”, funde duas metáforas centrais para compreender o universo da média-arte digital: os logs computacionais — arquivos de registo de processos — e as sinapses — conexões neuronais que transformam perceções e geram pensamento. Esta união simbólica dá corpo a uma proposta curatorial que valoriza tanto a memória processual dos projetos quanto as redes de sentido que eles ativam no encontro entre arte, tecnologia e crítica.
Em ambientes computacionais, os log files são registos sistemáticos da atividade de um sistema: operações executadas, interações, erros e estados transitórios. São a memória da máquina, um rastro detalhado que permite compreender como ela funciona. Esta metáfora alinha-se com os diários de bordo que os doutorandos desenvolvem ao longo da criação dos seus projetos. Neles documentam-se decisões conceptuais, avanços técnicos, desafios enfrentados e soluções encontradas — compondo uma narrativa processual da investigação artística.
Por outro lado, sinapses alude ao campo da neurociência, onde essas conexões são responsáveis pela circulação de informação e pela formação de conhecimento. No contexto da exposição, o termo serve como metáfora para as interações e relações que os projetos de arte digital promovem — entre dados e sensações, interfaces e corpos, algoritmos e subjetividades. Cada obra é uma conexão ativa, capaz de transformar o olhar e provocar pensamento.
O prefixo “./”, oriundo dos sistemas Unix/Linux, refere-se ao diretório atual — o ponto de partida, o lugar onde o utilizador se encontra no momento. Na exposição, essa notação sublinha o “aqui e agora” da experiência: um acesso direto aos projetos finalizados, que carregam consigo a memória do percurso e a energia das ligações que os tornaram possíveis.
As obras apresentadas em “./logSinapses” ultrapassam o estatuto de objetos contemplativos. São experiências imersivas, interativas, muitas vezes generativas, que convocam o público a participar ativamente na construção de sentido. Utilizando a tecnologia como linguagem, e não apenas como meio, os artistas-investigadores exploram temas urgentes — identidade, memória, política, ecologia, mediação — através de práticas que interligam o físico e o digital, o real e o virtual.
O logótipo apresenta-se como uma composição gráfica de inspiração digital, com forte conotação ao universo da programação, dos sistemas computacionais e das redes neuronais. O nome do projeto — “./logSinapses” — surge como linha de comando, evocando práticas de logging em sistemas operativos baseados em Unix/Linux, onde o prefixo ./ remete para a execução de ficheiros locais. Esta opção semiótica inscreve o projeto no léxico da computação, indicando desde logo uma abordagem crítica e criativa às tecnologias digitais. A tipografia escolhida para o nome principal é monoespaçada e pixelizada, remetendo para o design gráfico das interfaces retro e para o imaginário do digital “bruto”, ainda não estetizado pela cultura de massas. Este tratamento reforça a estética do glitch, da codificação e da visualidade algorítmica, comuns na Média-Arte Digital.
O subtítulo — “Registos em Média-Arte Digital” — em tipo de letra não serifada, funciona como contraponto racional à visualidade mais codificada do título. Este equilíbrio entre o expressivo e o informativo traduz o carácter dual do projeto: artístico e documental, sensível e sistemático, humano e maquínico.
Graficamente, o logótipo é composto por dois retângulos sobrepostos, ligeiramente deslocados, sugerindo camadas de informação, frames visuais, janelas de interface ou ícones de ficheiros de computador.
A escolha cromática em preto e branco reforça a clareza conceptual e a natureza arquivística do projeto, evocando simultaneamente os contrastes binários do código (0/1) e da luz digital (on/off), além de garantir uma neutralidade visual que privilegia o conteúdo sobre a ornamentação.
A pequena dobra no canto inferior direito pode ser interpretada como um detalhe alusivo ao gesto de virar uma página, simbolizando a ideia de registo, arquivo ou memória — em consonância com a noção de “log” no nome.
Finalmente, o título “./logSinapses” parece operar também como um neologismo conceptual, unindo:
“sinapses”, remetendo para o universo neurológico e, por extensão, para redes neuronais artificiais e inteligência artificial — campos pertinentes à média-arte contemporânea.




Este Diário de Bordo (DDB) tem como finalidade documentar, de forma sistemática e reflexiva, o processo de conceção e implementação de um projeto de Média-Arte Digital desenvolvido no âmbito do DMAD – Formação Avançada em Tecnologia e Arte Computacional (FATAC) 2024 .O DDB, intitula-se “Realidade Aumentada (RA) para a Valorização do Património Cultural Material e Imaterial: Estudo de Caso, Cabo Verde, Ilha de Santiago – Cidade Velha”, e será apresentado durante o Retiro Doutoral.
O DDB, combina práticas artísticas, tecnológicas e narrativas para explorar as potencialidades da Realidade Aumentada enquanto meio de mediação sensível e crítica do património histórico-cultural. O mesmo integra ideias, conceitos e informações recolhidas ao longo da pesquisa, refletindo o percurso metodológico e criativo trilhado, bem como as orientações recebidas e as decisões tomadas na construção do DDB.
Mais do que um mero registo processual, este Diário de Bordo constitui-se como um instrumento de reflexão sobre as relações da memória e tecnologia no contexto contemporâneo, alinhando-se com os desafios e possibilidades da arte locativa, das estéticas imersivas e das práticas interdisciplinares em arte e mediação cultural.

O presente estudo surge da necessidade de compreender de que forma é possível criar valor a partir do património cultural através da Realidade Aumentada, bem como analisar em que medida os munícipes se sentem valorizados pelo património material e imaterial.
Realidade Aumentada, do património cultural material e imaterial da Cidade Velha

Durante a infância, testemunhámos uma Cidade Velha marcada por ruínas e escombros, tendo acompanhado de perto os processos de escavação em diferentes momentos. Esse percurso pessoal motivou o nosso compromisso atual com a valorização do local, por via da utilização da RA.

Nesse sentido, começaram a surgir os primeiros indícios de uma direção estética e narrativa: a ideia de criar uma experiência que não só resgate, mas também reinvente o modo como a população se relaciona com o seu património. A Realidade Aumentada oferece a possibilidade de sobrepor passado e presente, de devolver visibilidade às estruturas desaparecidas e de provocar uma interação sensível com a história local.

Este Diário de Bordo assenta, portanto, numa vontade profunda de reconexão: com o passado, com o lugar e com a identidade cultural. A Cidade Velha, enquanto espaço simultaneamente simbólico e real, é aqui reimaginada através da sobreposição de camadas visíveis e invisíveis, onde a Realidade Aumentada actua como mediadora entre o que foi, o que é e o que pode ser revisto e reapropriado. A experiência humana que se pretende proporcionar é uma vivência de pertença, de encantamento e de descoberta — na qual a tecnologia não substitui a memória, mas antes a amplifica, ressignifica e reintegra no quotidiano dos seus habitantes e visitantes.

O presente projeto propõe a implementação de um sistema interativo baseado em QR Codes na Cidade Velha, classificada como Património Mundial pela UNESCO, com o objetivo de proporcionar aos visitantes uma experiência digital imersiva, educativa e acessível. Parte-se do pressuposto de que a valorização do património histórico-cultural pode — e deve — incorporar as potencialidades da média-arte locativa e da narrativa digital interativa enquanto ferramentas de mediação cultural no contexto contemporâneo.




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